Aparições do espectro do analógico por aí

CD de jogo para "Sega Satan", o console do diabo, exibe propaganda comunista para crianças e revolta famílias em Ferraz de Vasconcelos-SP


Enquanto feliz desempregado, planejei tanto me dedicar unicamente à vagabundagem (AKA “meus projetinhos pessoais & hiperfocos”) até o fim do ano, mas como já dizia a banda de inferninho Despacho Mode, “deus tem um senso de humor meio paia”, então acabei arrumando outro emprego. Eeeeeeentretanto, tudo indica que tenho chances ainda melhores que no emprego anterior de atualizar essa desgraça aqui com mais frequência.

Nessa última semana, têm saído algumas coisinhas que aprontei no mundo das línguas por aí. Com essas duas tarefas finalizadas, agora posso colocar mais 40 coisas na minha lista de projetos simultâneos! Tudo sob controle! Como é bom ser organizado e ter prioridades claras! (a punchline é que, de alguma forma, ser doido e desorganizado está funcionando sim)

Освобождение (1940)

Documentário soviético de propaganda sobre a brigaiada com os polacos pra anexar as partes ocidentais da Ucrânia e de Belarus à URSS.


Se tem uma coisa que eu não recuso é a chance de salvar o dia quando alguma das minhas habilidades aleatórias e específicas é requerida. Gosto muito do trampo do Drive Soviético, que disponibiliza uma filmografia extensa gratuitamente, com legendas em português. Esse filme em particular não tinha legendas em inglês (ao menos não fáceis de achar; eu mesmo não pude. Apesar que queria muito o desafio de traduzir do russo, então não cheguei a secar as fontes de busca…). Havia apenas uma legenda (muito boa) em sueco. Ótimo, o timecoding já chegou pronto! Me prontifiquei ao trabalho de fazer uma legenda pt-br.

Atentem-se que eu não sou um falante de russo que nooooossa que grande bardo da poesia soviética, sou apenas um fã de rock russo/soviético, culturas e línguas eslavas. Um belo dia, troquei 20 anos da minha saúde mental por 5 anos de estudo acadêmico de russo. Agora estou condenado a usar o que aprendi nesses 5 anos para sobreviver até poder ter saúde mental de novo. Mas ó, что за эти пять лет.

Fiz uns malabarismos aproveitando a qualidade da legenda sueca, usei a integração com o whisper e o tesseract do Subtitle Edit pra ajudar (ou atrapalhar) no reconhecimento do áudio — o qual é tão antigo e abafado que meus ouvidos acabaram fazendo a maior parte do trabalho — e transformá-lo em texto. Isso junto a outros mil truques me permitiu chegar a um nível de praticidade confortável para tirar a média entre as legendas suecas convertidas pra inglês depois de contextualmente reagrupadas, a minha audição, gramática e habilidade de pesquisa, e o resultado do speech-to-text russo. Eu sou é muito sortudo que russo não é muito complexo quando não quer ser.

Isso me deixou a sós com um último problema: Metade do documentário é gente discursando em ucraniano e bielorrusso.

O autor das legendas suecas afirma, nas anotações das mesmas, que se baseou em uma tradução do inglês para essas partes. Qual tradução, eu não faço ideia.

Eu, como falante (pffffffffffffff) de russo, me utilizei do seguinte arsenal para lhes ofertar uma tradução desses discursos:

  • Confia no sueco. O cara sabe o que faz. Segue ele e vai.
  • Regra de três: Bielorrusso está para russo como galego está para português brasileiro.
  • Regra de três²: Ucraniano está para russo como espanhol europeu com um certo grau de infecção gripal está para português brasileiro.
  • O alfabeto cirílico é uma bênção que o ocidente ainda não sabe apreciar. Conheço boa parte das características peculiares da fonética e da grafia do bielorrusso e do ucraniano. Assim como o russo, são línguas fáceis de ouvir e transcrever.
  • Wiktionary is my lord and saviour. Tudo o que soou alienígena demais, tentei isolar, transcrever e pesquisar em todos os meios possíveis.

Fica a deixa pra qualquer falante de ucraniano e/ou bielorrusso interessado fazer uma versão 2.0 das legendas.

O resultado das minhas bruxarias você confere no propriamente dito Drive Soviético. Espero poder colaborar com o projeto novamente.

Em alternativa, como o doc está disponível no youtúbson, você também pode assistir legendado usando o Captionfy por aqui.

Sega Saturn, uma análise técnica por Rodrigo Copetti



Eu sempre vou presumir que qualquer chapeuzinho vermelho que se perca na floresta e caia no meu site seja um nerdola de retrogaming. Então, por favor, diga que você conhece o site do Copetti. Se não, vá lá agora. O cara faz análises e dissecações técnicas dos componentes de consoles de várias gerações. Quando comecei a acompanhar, era tudo mato e um artigo incrível sobre o Game Boy Advance. Hoje, o cara já escreveu sobre tudo e mais um pouco, e o site tem código aberto no Github e um projeto colaborativo no Crowdin, por onde a comunidade pode traduzir os artigos.

Peguei o primeiro artigo sobre um console que eu amasse e que estivesse 0% traduzido pro português. Claro, Sega Satan, Shiro! Demorei meses, mas ficou pronto. Devido ao espaço de tempo entre minhas edições, não revisei como devia, mas o Crowdin tá aí pra isso: viu caca? Vai lá i mim correge.

Talvez eu traduza algum outro artigo, total ou parcialmente. Acho o material do Copetti um recurso inavaliável, tamanha a síntese e a qualidade dos estudos, tudo isso unido à característica wikipédica da colaboração: tudo o que você ver de informação errada ou de coisa que falta mencionar, cola lá no Github do site e sugere.

Se uma ou mais traduções minhas ajudarem algum BR num TCC sobre joguinho véio, eu já fico feliz.

Leia aqui o artigo em português sobre o Sega Saturn, o melhor console que vocês — VOCÊS MESMO — esnobam. Veja como a Sega cuidou mal da minha criancinha, depois de ter tido tanto cuidado na gestação…

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